Alta performance ou subserviência? O custo oculto de um mundo que esqueceu de ser humano
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Vivemos em um tempo onde a velocidade é a moeda mais valiosa e o descanso é visto como fraqueza. Em meio a mantras de “alta performance” e a busca incessante por resultados, algo perigoso acontece silenciosamente: esquecemos de ser humanos.
Mas, sob a superfície desse mundo corporativo e social acelerado, existe uma dinâmica psicológica complexa e muitas vezes tóxica. Criamos o cenário perfeito para o florescimento de uma relação antiga e destrutiva: a dança entre o perfil narcisista (aquele que cobra sem limites) e a mente oprimida (aquele que entrega sua saúde em troca de aprovação).
Neste contexto, a subserviência deixou de ser vista como opressão. Ela foi reembalada, gourmetizada e vendida com novos nomes: “vestir a camisa”, “resiliência” ou “foco total”.
Vamos desmascarar essa engrenagem?
O palco: A desumanização sistêmica
Antes de apontarmos dedos, precisamos olhar para o cenário. O sistema atual transformou pessoas em ativos de produtividade.
A lógica é cruel, mas simples: o seu valor humano é, muitas vezes, equiparado à sua capacidade de entrega. Isso remove a empatia da equação. Se você é apenas uma peça na máquina, não importa se está exausto, ansioso ou doente; importa se está funcionando.
Esse ambiente valida a frieza de quem cobra e invalida a dor de quem é cobrado.
1. A mente de quem cobra: O narcisismo corporativo
Para um perfil narcisista ou para lideranças que absorvem traços narcisistas estimulados pelo mercado a subserviência alheia não é um favor. É um direito.
Nesta mente, o outro não é um indivíduo com desejos e limites próprios; é uma ferramenta, uma extensão do ego do líder.
- A subserviência como suprimento: Quando você se anula para atender a uma demanda impossível às 22h, o narcisista não sente gratidão. Ele sente poder. Ele recebe o que chamamos de “suprimento narcísico”.
- A “Paixão” como Desculpa: A falta de limites é justificada pela “paixão pelo resultado”. Para eles, a subserviência é a única resposta aceitável. Qualquer coisa menos que entrega total é vista como traição ou incompetência.
2. A mente de quem é cobrado: A armadilha da aprovação
Do outro lado da mesa, temos a mente oprimida. Raramente a subserviência aqui é uma escolha consciente de “quero servir”. Na maioria das vezes, é uma resposta de trauma, conhecida na psicologia como Fawning (adulação ou apaziguamento).
- O medo da insuficiência: Em um mundo que exige perfeição, o oprimido sente que nunca é bom o suficiente.
- A ilusão de segurança: A lógica interna é: “Se eu fizer exatamente o que ele quer, do jeito que ele quer, talvez eu tenha paz. Talvez eu não seja demitido. Talvez eu seja valorizado.”
- Burnout como medalha: A sociedade ensinou a essa pessoa que sofrimento é sinal de esforço nobre. Logo, ser subserviente até a exaustão parece o certo a se fazer.
“A subserviência, neste mundo acelerado, é o lubrificante que faz a máquina girar, mas é o sangue de quem obedece que está sendo gasto.”
O encaixe perfeito (e perigoso)
Como isso se sustenta? É como uma chave e uma fechadura. O narcisista exige espelhamento e obediência cega. O oprimido, com medo da rejeição e do conflito, entrega exatamente isso.
Cria-se uma simbiose onde um manda sem empatia e o outro obedece sem autoamor. O sistema premia o narcisista pelos resultados rápidos a curto prazo e descarta o subserviente quando ele inevitavelmente “quebra” em um Burnout.
Resgatando a Humanidade
Reconhecer essa dinâmica é o primeiro passo para sair dela. A subserviência não é gentileza e não é “alta performance” sustentável. É a perda da soberania sobre si mesmo.
O ato mais revolucionário que podemos fazer hoje, seja como líderes ou colaboradores, é reivindicar nossa humanidade. É entender que “não” é uma frase completa. É lembrar que nenhum CNPJ vale um AVC, e que a verdadeira performance só existe quando há saúde mental para sustentá-la.
Não somos máquinas. E já passou da hora de pararmos de agir como se fôssemos.
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